A futurista norte-americana Amy Webb revelou as principais tendências tecnológicas emergentes para 2025 durante o SXSW 2025. Confira os destaques!
Na edição deste ano do SXSW, a futurista Amy Webb — CEO do Future Today Institute e professora da NYU Stern School of Business — apresentou a 18ª edição do Tech Trends Report. Com uma análise baseada em dados, Webb destacou as principais tendências tecnológicas para 2025. Confira os detalhes a seguir!
Sistemas de Agentes Múltiplos (MAS)
Logo no início de sua apresentação, Amy Webb destacou o enorme potencial dos Sistemas de Agentes Múltiplos (MAS), explicando como esses agentes de IA trabalham em conjunto para resolver problemas complexos. Diferente dos sistemas de IA tradicionais, que operam isoladamente, os MAS são compostos por múltiplos agentes que colaboram, trocam informações e distribuem tarefas de forma dinâmica para atingir um objetivo comum.
DARPA usando agentes múltiplos para desarmar bomba
Um dos exemplos mais impressionantes apresentados por Webb foi um experimento da DARPA, no qual três agentes autônomos — Alpha, Bravo e Charlie — foram designados para desarmar bombas em um ambiente virtual. Esses agentes se auto-organizaram, comunicando-se entre si para definir quais ferramentas utilizar e em que sequência, demonstrando uma notável capacidade de adaptação e otimização.
O experimento utilizou modelos de linguagem GPT-3.5 e GPT-4, permitindo que os agentes se comunicassem diretamente por meio de texto, tornando a troca de informações e a execução de tarefas altamente dinâmicas. Um caso emblemático foi a iniciativa de Alpha, que assumiu espontaneamente um papel de liderança, coordenando as ações dos outros agentes sem qualquer instrução prévia dos pesquisadores.
Experimento com Minecraft
Webb destacou um experimento da startup Altera, que liberou centenas de agentes autônomos de IA no jogo Minecraft para estudar a inteligência coletiva. Durante o teste, os agentes formaram alianças, estabeleceram uma rede de comércio e até redigiram uma constituição colaborativamente no Google Docs. No entanto, nem todos se comportaram de maneira exemplar — alguns disseminaram desinformação e até evangelizaram uma religião fictícia, evidenciando que, embora essa tecnologia seja promissora, também levanta desafios éticos e de governança.
Inteligência artificial e sensores avançados
A convergência entre IA e sensores avançados está transformando nossa interação com o mundo físico. Com algoritmos inteligentes e dispositivos de alta precisão, setores como saúde e agricultura estão passando por uma verdadeira revolução. Na medicina, diagnósticos tornam-se mais precisos e ágeis, enquanto na agricultura, sensores monitoram e otimizam as condições de cultivo em tempo real. Essa integração permite respostas mais rápidas e eficazes, elevando a eficiência e melhorando significativamente a qualidade de vida.
Fitbit microscópico em cães
Esses sensores transmitem dados para sistemas de IA, que analisam as informações e geram recomendações precisas e personalizadas. Um exemplo curioso apresentado por Webb foi o uso de um Fitbit microscópico — um dispositivo vestível ultrapequeno, muitas vezes implantável, projetado para monitorar sinais vitais e métricas de saúde. No caso, se Kevin, um cão de estimação, começasse a ganhar peso, esse sistema poderia coletar dados em tempo real sobre sua saúde e nível de atividade. Com base nessas informações, a IA decidiria que ele precisa se exercitar mais e, como solução, ativaria vídeos de cachorros no YouTube para incentivá-lo a se movimentar.
Webb também destacou a Droid Speak, uma nova linguagem desenvolvida pela Microsoft para comunicação entre sistemas multiagentes. Diferente da linguagem humana, Droid Speak usa matemática pura para transmitir informações, tornando a comunicação até 100 vezes mais rápida do que os métodos tradicionais baseados em texto. Essa inovação elimina ambiguidades e limitações da linguagem natural, tornando os sistemas de IA mais eficientes e ágeis em suas operações.
Bioengenharia e metamateriais
A bioengenharia está rompendo barreiras ao integrar biologia e tecnologia para desenvolver soluções inovadoras. Webb destacou os avanços da biologia generativa, uma abordagem que utiliza IA para prever a estrutura e as interações de moléculas biológicas, como proteínas, DNA e RNA. Essa tecnologia revolucionária possibilita a realização de experimentos antes considerados inviáveis, tornando os processos mais rápidos, precisos e eficientes.
Arroz com genes de vaca
Cientistas sul-coreanos desenvolveram uma técnica inovadora para cultivar células bovinas em grãos de arroz, abrindo caminho para uma fonte de proteína mais sustentável, acessível e ecológica. Esse avanço tem o potencial de reduzir a dependência da pecuária na produção de carne, oferecendo uma alternativa viável para o futuro da alimentação.
O estudo, liderado pelo professor Jinkee Hong, da Universidade Yonsei, em Seul, foi publicado na revista Matter e introduziu o conceito do “arroz bovino” — o primeiro experimento a utilizar partículas de grãos como plataforma para o crescimento de músculos e células de gordura de origem animal. O processo começa com o tratamento dos grãos de arroz com enzimas, criando um ambiente propício para a proliferação celular. Em seguida, as células bovinas são incorporadas, resultando em um produto híbrido que mantém a estrutura do arroz, mas adquire uma coloração rosada, destacando-se como uma inovação promissora na biotecnologia alimentar.
O arroz com genes de vaca é uma ideia experimental na biotecnologia que tem como objetivo principal a melhora do valor nutricional do arroz, especialmente aumentando o teor de proteínas, que é mais elevado nos genes bovinos. No entanto, é importante ressaltar que essa tecnologia ainda está em fase de pesquisa e suscita debates éticos, ambientais e de segurança alimentar. A aplicação prática dessa técnica ainda não é comum e está sujeita a regulamentações rigorosas.
Tijolo que imita os pulmões humanos
A bioengenharia possibilita a criação de metamateriais com propriedades programáveis que podem mudar suas características em resposta a estímulos externos, como luz ou calor. Os metamateriais são desenvolvidos com propriedades que não são encontradas na natureza e são criados através de um design microestrutural preciso. Amy Webb discutiu como esses materiais estão rompendo as regras normais da física, permitindo que eles dobrem a luz ou o som na direção oposta do que normalmente aconteceria.
Um exemplo impressionante apresentado por Webb foi o tijolo que imita os pulmões humanos. Esse tijolo tem propriedades de filtração semelhantes às dos pulmões, permitindo que ele filtre automaticamente os poluentes do ar. Outro exemplo é um tijolo que se comporta como o cós elástico de suas calças, tornando-se rígido ou flexível conforme necessário. Durante um terremoto, esses tijolos poderiam se tornar flexíveis, evitando desmoronamentos. Essas aplicações inovadoras de materiais metamateriais mostram como a engenharia pode criar estruturas adaptáveis e inteligentes.
IA encarnada
A Inteligência Artificial encarnada é um conceito no qual sistemas de IA interagem com o mundo físico por meio de um corpo ou forma física. Surgiu da necessidade de superar a limitação dos sistemas tradicionais, permitindo que as máquinas aprendam com a experiência direta no ambiente real, em vez de depender unicamente de grandes volumes de dados. Equipados com sensores, robótica avançada e capacidade de interação contínua com o mundo físico, esses sistemas podem desenvolver um entendimento mais profundo e dinâmico da realidade, aproximando-se da cognição humana.
Amy Webb explicou que, atualmente, os sistemas de IA carecem de experiência no mundo físico, o que significa que não possuem o senso comum ou a intuição que os humanos desenvolvem ao longo do tempo, uma habilidade crucial para a adaptação e resolução de problemas cotidianos.
Experimento da Meta e do ETH Zurich
Para superar essa limitação, pesquisadores estão desenvolvendo técnicas e protocolos que permitem à IA coletar dados físicos detalhados. Webb mencionou um experimento realizado por pesquisadores da Meta e do ETH Zurich, que usaram reconstrução avançada de movimentos humanos para analisar os gestos corporais com precisão, refinando os dados para aplicá-los em sistemas de IA.
No futuro, sensores especiais irão conectar a IA diretamente aos cérebros humanos, permitindo que a IA se torne verdadeiramente encarnada. Exemplos dessa evolução incluem a captura de dados de atividade cerebral por fMRI, convertendo-os em imagens, ou permitindo que uma pessoa paralisada se comunique com um avatar gerado por IA. Essas tecnologias revolucionárias transformarão profundamente a forma como a IA interage com o mundo físico.
Computação neuromórfica
A Computação Neuromórfica é uma abordagem inovadora que utiliza materiais biológicos, como células cerebrais, para criar computadores que integram inteligência biológica e tecnologia de silício. Amy Webb destacou o trabalho da DeepMind e do AlphaFold, que agora são capazes de prever as estruturas e interações de todas as moléculas biológicas. Essa tecnologia está abrindo portas para avanços significativos em pesquisa e desenvolvimento, superando barreiras que antes pareciam intransponíveis.
Organoid Intelligence (OAI)
A fusão entre inteligência artificial e biologia está possibilitando a criação de materiais programáveis e vida reprogramável. Amy Webb explicou que tecnologias como o Organoid Intelligence (OAI) utilizam materiais biológicos, geralmente células cerebrais, para o processamento de informações. Isso permite a construção de computadores mais potentes e eficientes em termos de energia do que os tradicionais chips de silício.
Pesquisadores acreditam que o OAI pode proporcionar avanços significativos em áreas como o entendimento do desenvolvimento cerebral, aprendizado e memória, além de abrir novas possibilidades para o tratamento de distúrbios neurológicos, como demência e Alzheimer.
Empresas como a Cortical Labs e a Final Spark estão comercializando biocomputadores que combinam neurônios vivos com chips de silício, capazes de realizar cálculos complexos de forma mais eficiente que os computadores convencionais. Webb destacou o lançamento do primeiro biocomputador comercial, composto por neurônios humanos e operando com um sistema operacional de inteligência biológica (BIOS). Essas inovações permitem a criação de redes neurais programáveis, abrindo novas fronteiras para a computação avançada.
Tecnologia de interface neural
As tecnologias de interface neural estão possibilitando uma conexão direta entre o cérebro humano e dispositivos externos, transformando a medicina e a interação com a tecnologia. Amy Webb abordou experimentos em que sensores capturam dados de atividade cerebral e os convertem em ações. Um exemplo notável foi o de um homem paralisado que conseguiu pilotar um drone virtual apenas imaginando o movimento de seus dedos, graças a uma interface cérebro-máquina equipada com 192 eletrodos implantados.
Caso Ann Johnson
Webb também mencionou o caso de Ann Johnson, que sofreu um derrame catastrófico, ficando paralisada e incapaz de falar. Pesquisadores implantaram eletrodos e coletaram dados dos sinais cerebrais dela, que foram convertidos em linguagem escrita e vocalizada por um avatar gerado por IA. Essa tecnologia oferece uma nova esperança para pessoas com deficiência, permitindo-lhes recuperar a capacidade de se comunicar e interagir com o mundo de maneiras inovadoras.
Esses avanços na interface neural estão criando novas oportunidades para o controle de dispositivos, ampliando as possibilidades de tratamento e melhorando significativamente a qualidade de vida.
Micromáquinas e nanotecnologia
Amy Webb discutiu como as micromáquinas e a nanotecnologia natural estão se tornando cada vez mais sofisticadas, operando no nível celular para realizar funções precisas dentro do corpo humano. Um exemplo fascinante é o motor flagelar, uma micromáquina que já existe em nosso corpo e é responsável pelo movimento de organismos.
Pesquisadores da Universidade de New South Wales estão desenvolvendo motores microbianos quiméricos, combinando diferentes partes de motores bacterianos para criar novas máquinas com apenas seis nanômetros de diâmetro. Essas micromáquinas têm a capacidade de gerar eletricidade e se mover de forma autônoma, representando um avanço promissor na nanotecnologia.
Sperm bots
Webb também mencionou os “sperm bots”, introduzidos em 2016 por pesquisadores alemães. Esses dispositivos consistem em pequenos coils que envolvem espermatozoides individuais e são controlados por um magneto, direcionando-os com precisão para onde precisam ir.
A próxima geração desses sperm bots incluirá ferramentas avançadas para transportar cargas de medicamentos, representando uma nova classe de dispositivos capazes de ser usados dentro do corpo para tratar doenças de maneira mais eficaz e precisa. Além disso, o MIT desenvolveu wearables para neurônios, que são injetados no corpo e ativados por luz externa. Essa tecnologia permite o tratamento de condições neurológicas, como a doença de Parkinson, de forma específica, sem danificar os tecidos saudáveis.
Robôs biohíbridos
Robôs biohíbridos combinam elementos biológicos e mecânicos, criando novas formas de interação entre tecnologia e biologia. Amy Webb destacou vários exemplos impressionantes dessa tecnologia, como o robô Ameca (foto acima), que é revestido com pele humana e possui a capacidade de cicatrizar, se queimar e curar, além de imitar expressões faciais humanas.
Desenvolvido pela Engineered Arts, o Ameca é considerado um dos robôs humanoides mais avançados do mundo, com um design focado no realismo e na interação natural. Sua habilidade de exibir microexpressões sutis e responder em tempo real faz dele uma ferramenta promissora para estudos sobre a comunicação entre humanos e máquinas. Confira mais sobre a Ameca e outros robôs nas matérias do Showmetech: 20 robôs humanoides que mostram o futuro da robótica e Os 14 robôs mais incríveis do mundo.
Outro exemplo notável foi o robô biohíbrido desenvolvido na Universidade de Cornell, que possui um cérebro feito de micélio de cogumelo e responde a estímulos de luz, permitindo que se mova e reaja ao ambiente.
Água-viva robótica biohíbrida
Outro exemplo fascinante é a água-viva robótica biohíbrida desenvolvida pelo Caltech, que combina células de água-viva com sensores artificiais. Esse robô tem o potencial de ser utilizado para coletar dados em áreas de difícil acesso no oceano, contribuindo para o monitoramento do impacto das mudanças climáticas. A grande importância desses robôs biohíbridos está na sua capacidade de interagir com ambientes complexos e dinâmicos, oferecendo soluções inovadoras para desafios em áreas como saúde, monitoramento ambiental e outras aplicações cruciais.
Quem é Amy Webb?
Amy Webb é uma futurista americana, autora e fundadora do Future Today Institute. Nascida em 18 de outubro de 1974, em East Chicago, Indiana, Webb iniciou sua carreira como jornalista, cobrindo temas de tecnologia e economia para o The Wall Street Journal e a Newsweek. Ela possui um bacharelado em Ciências Políticas, Economia e Teoria dos Jogos pela Universidade de Indiana Bloomington e um mestrado pela Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia.
Em 2006, Webb fundou o Future Today Institute, uma empresa de consultoria especializada em identificar sinais de mudança e padrões emergentes, adotando uma abordagem quantitativa única. Desde 2007, ela é autora do Relatório Anual de Tendências Tecnológicas do instituto, que explora o futuro das tecnologias e seu impacto na sociedade. Além disso, Webb é professora adjunta na Stern School of Business da Universidade de Nova York, onde ensina previsão estratégica.
Reconhecida por suas contribuições ao campo da previsão estratégica, Webb foi nomeada uma das 100 Mulheres da BBC em 2019. Ela também é autora de livros best-sellers, como The Big Nine e The Genesis Machine, traduzidos para 21 idiomas. Além de seu trabalho acadêmico e literário, Webb colabora com roteiristas e produtores de Hollywood na criação de filmes, programas de TV e comerciais, ajudando a construir mundos fictícios baseados em suas previsões sobre ciência, tecnologia e o futuro.
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